Pedrinho – garoto falante e simpático – diz ao Gustavo: “Eu ensinei o meu cachorrinho Totó a falar”. “É mesmo?!” – admira-se Gustavo. “Que legal!”.
Gustavo se aproxima de Totó, brinca com ele, e insiste várias vezes: “Totó, fala comigo!”. Entretanto – como era de se esperar – o cachorrinho não fala. Brinca, pula, late, mas não fala.
Desapontado, Gustavo diz para seu amigo: “Pedrinho, eu tentei, mas não ouvi o Totó falar, e você me disse que ele fala…”. O Pedrinho responde: “Eu disse que ensinei o Totó a falar; eu não disse que ele aprendeu”.
Humor à parte, o diálogo desses dois garotos ilustra uma preocupante e triste realidade na Escola Sabatina: Nem sempre o ensino está resultando em aprendizado eficaz. E como sabemos disso? Basta observar que – a despeito de ensinarmos assuntos tão importantes e necessários, trimestre após trimestre – nossos alunos não incorporam esses ensinamentos à sua vida, e não são transformados por eles. E, claro, se ensinamos e eles não aprenderam, então há algo de errado nesse processo.
Por isso, é fundamental entender e aceitar que ensinar não é sinônimo de aprender. Não é porque o professor de Escola Sabatina está à frente de sua classe todos os sábados que, automaticamente, os membros de sua classe aprendem. O que fazer diante deste desafio?
Envolva participantes no ensino
O professor que ensina sem se preocupar com o aprendizado do aluno, equivale ao médico que atende a um doente sem ligar para a sua recuperação, ou ao vendedor que faz uma oferta, mas não está preocupado em vender o produto. Em ambos os casos diríamos: “Que falta de objetivo! Como pode um médico não se preocupar com a recuperação da saúde de seu paciente? Que tipo de vendedor é esse que oferece um produto, mas não faz questão de que o produto oferecido seja comprado?”
Pensemos no professor da Escola Sabatina: Se ele ensina, sua classe aprende; e se sua classe não aprende, é porque ele não ensina. Entretanto, para que o aprendizado de fato ocorra, alguns elementos fundamentais devem ser considerados, e um deles é o envolvimento do aluno no processo.
Na década de 1950, o educador norte-americano Edgar Dale propôs o que ficou conhecido como “Cone da Aprendizagem”.[1] Observando o cone, concluímos que a melhor maneira de produzir um aprendizado significativo e duradouro é pelo uso de métodos que promovam a participação direta das pessoas.
O Cone de Aprendizagem nos mostra que quanto mais ativa for a participação, melhor será o aprendizado e mais duradoura a retenção da informação; e quanto mais passivo for o ensino, menor será o aprendizado, e a retenção ficará comprometida. Por isso, professores da Escola Sabatina não devem “passar a lição”, pois isso pressupõe um aluno passivo que meramente recebe o que o professor lhe entrega, além do que pressupõe, muitas vezes, incapacidade por parte do aprendiz, ignorando as informações e conhecimentos prévios que todo aluno traz para uma sala ou espaço de aprendizado.
Em vez de meramente “passar a lição”, o professor da Escola Sabatina deve criar um ambiente apropriado de ensino e aprendizado. Isso implica em que, a cada sábado, ao assumir a classe sua classe de Escola Sabatina, o professor e a professora devem ter claro – em sua mente e no papel – o que vão ensinar, discutir, debater; ou seja, precisam planejar o momento da lição. Claro, precisamos pensar em um esquema que organize todos esses aspectos.
A esta altura, vale a pena relembrar quais as ênfases e quais os objetivos fundamentais da Escola Sabatina, pois sem saber quais as ênfases e quais os objetivos de algo, fica difícil estabelecer maneiras de como alcançá-los. Sabemos que as ênfases da Escola Sabatina são basicamente quatro: Discipulado, Integração, Missão e Estudo; os objetivos também são quatro, plenamente harmonizados com os itens anteriores: Estudo da Bíblia, Confraternização, Testemunho, Missão Mundial.
Vamos tratar especificamente do estudo da Bíblia, que é tanto ênfase quanto objetivo na Escola Sabatina. A casa sábado diversos desafios se apresentam para o professor e professora na hora do estudo da lição:
☛ tornar relevante os temas, ☛ envolver as pessoas, ☛ interessá-las no estudo, ☛ levar as pessoas a aprender, ☛ levar as pessoas a uma mudança de vida.
Como fazer isso: O Esquema MCAC (Motivação, Compressão, Aplicação, Criatividade)
Seria muito bom que, sábado após sábado, nossos alunos da Escola Sabatina estivessem on-line, conectados conosco, dispostos e com desejo de aprender. Mas a realidade nos mostra que nem sempre é assim. Na maioria das vezes, nossos alunos estão off-line, desinteressados e com pouca expectativa a respeito do estudo da lição. Essa realidade pode mudar drasticamente se colocarmos em prática um esquema que a Igreja Adventista preparou para estruturar o estudo da lição, e que está na seção chamada “Auxiliar para o Professor”; é o esquema MCAC:
O MCAC permite um aprendizado significativo e duradouro, pois promove um método participativo e envolvente na hora do estudo da lição. Ou seja, o MCAC não é um mero capricho ou simplesmente passos que alguém inventou. Não. O MCAC consiste em estágios lógicos do processo ensino-aprendizado, que conduzem o estudo desde um elementar momento de interesse no assunto até o necessário estágio de vivenciar o que se aprendeu. A seguir, veja uma explicação bem didática do objetivo de cada um dos componentes do esquema MCAC:
A motivação tem como objetivo prover uma resposta introdutória e atraente à pergunta: Por que esta lição é importante para mim? Consequentemente, neste estágio do estudo da lição o professor precisa ganhar a atenção dos alunos, e isto é possível pelo ato de trazer à tona uma necessidade específica que justifique o estudo deste ou daquele assunto. Neste primeiro passo, o professor também estabelece os objetivos principais do estudo, deixando claro qual o foco que norteará a discussão. No final das contas, o que se quer é preparar a cognição e a emoção para a recepção e interação com o assunto da lição. Desta maneira, a motivação é fundamental para tirar o aluno do seu confortável estado off-line para o necessário estado on-line; somente assim ele estará preparado para um estudo proveitoso e transformador.
O segundo passo do esquema MCAC é a compreensão; neste estágio, o aluno terá a resposta à seguinte pergunta: o que eu preciso conhecer da Palavra de Deus? Este é o momento de envolver todos os alunos no estudo, explicando os versículos ou tópicos fundamentais da lição. Mediante explicações bem embasadas, o professor precisar clarificar significados, comunicando os mais importantes princípios dos tópicos selecionados. Como o tempo não permitirá abranger cada verso ou assunto abordado na lição, o professor precisará escolher dois ou (no máximo) três tópicos e aprofundar-se neles, pois é melhor ser específico e profundo em três tópicos do que ser superficial em seis ou sete itens. O critério para escolher os dois ou três tópicos deve ser tanto a relevância deles, quanto a necessidade da classe.
Após a compreensão, é o momento da aplicação, que provê resposta para duas perguntas: Em que áreas da minha vida eu devo mudar? Como posso pôr em prática as informações que obtive? Pode ser que alguns professores não considerem tão importante este momento do estudo da lição, mas, por favor, não caia na tentação de achar que o que importa é um bom conteúdo. Sim, é importante um bom conteúdo e uma boa explicação. Mas se o conteúdo não for aplicado à vida, as pessoas continuarão vivendo do mesmo jeito que sempre viveram. E certamente nós queremos que haja mudança de vida, transformação. Um bom conteúdo não aplicado à vida produz meramente pecadores esclarecidos, gente que está bem informada, mas que não vive à luz do que sabe. A aplicação permite colocar em prática o que se aprendeu. Por isso, o professor deve relacionar a verdade aprendida com a vida diária dos alunos, mostrando como os temas estudados são necessário ainda hoje. Desta maneira, a Bíblia se torna relevante e necessária.
Finalmente, a lição encerra com o passo da criatividade, que responde a uma pergunta importante: O que posso fazer para não esquecer o que aprendi neste sábado? Nesta hora, o professor deve prover oportunidades para que cada aluno crie maneiras de interiorizar as verdades e princípios estudados. Assim, cada estudantes estará sendo conduzido a mudanças que tenham a ver com sua própria realidade e necessidade.
É interessante notar que esses quatro passos constituem elementos que nos permitem sair do presente para o passado e para o futuro:
☛ quando motivamos a classe, estamos lidando com o presente, o agora; ☛ no estágio da compreensão viajamos para o passado, pois vamos ao texto bíblico, revelado por Deus há tantos séculos; ☛ ao aplicar a lição, retornamos ao presente, tornando a Palavra de Deus relevante para o nosso dia a dia; ☛ a criatividade nos permite pensar no futuro, pois traçamos maneiras de interiorizar, futuramente, aquilo que aprendemos.
Como funciona na prática?
A esta altura, certamente muitos estão se perguntando: Como posso pôr em prática cada um desses quatro passos? O que posso fazer com a classe para operacionalizar esses estágios? O quadro a seguir oferece algumas ideias a esse respeito.
A maneira com o MCAC vai ser operacionalizado certamente depende de cada professor e de cada classe. Mas quatro princípios devem ser levados em conta:
A motivação tem o propósito de fisgar o aluno, chamando sua atenção para o assunto que será estudado. A compreensão tem o propósito de levar o aluno a ler a Palavra de Deus, e não meramente confiar nas opiniões de especialistas sobre o tema. Assim, devem ser adotadas estratégias que permitam a leitura da Bíblia, que é o fundamento de todo estudo na Escola Sabatina. A aplicação tem o objetivo de fazer o aluno pensar nas maneiras como o assunto estudado se relaciona com a sua vida; assim, a lição se torna relevante para cada pessoa; de “Palavra de Deus escrita há muito tempo”, ela passa a ser a “Palavra de Deus que toca a minha vida hoje”. A criatividade tem o propósito de internalizar as verdades aprendidas, mediante atividades práticas que ajudam a captar a essência daquilo que foi estudado e discutido. Após o estudo diário da lição, o professor poderá preparar um resumo, em forma da esboço; esse esboço servirá como guia no momento do estudo da lição com a classe. A seguir, uma sugestão desse esboço, considerando um tempo de trinta minutos:
☛ Motivação: 5 minutos de uma história, ilustração, alguma coisa para mostrar, etc.
☛ Compreensão: 20 minutos para estudar dois o três assuntos mais relevantes da lição
☛ Aplicação: 10 Minutos
☛ Criatividade: 5 minutos p/ escolher um produto da lição para realizar na semana como resultado da lição
☛ Desafio: prepare um esboço seguindo o ciclo do aprendizado para cada Sábado.
O esquema MCAC favorece um aprendizado realmente eficaz porque possibilita o desenvolvimento integral do aluno, pois enquanto que a compreensão e a aplicação contemplam atividades de aspecto cognitivo, a motivação e a criatividade podem contemplar atividades que desenvolvam os aspectos social, emocional, físico e espiritual.
Eu entendo que muitos professores e professoras da Escola Sabatina estejam acostumados ao modelo de lição tipo “sermão”, no qual alguém fala sem parar durante trinta ou quarenta minutos, e os alunos apenas ouvem, sem chance de envolvimento e participação. Reconheço que o modelo de lição tipo “sermão” é a maneira mais fácil de “passar a lição”, mas também reconheço que é o modo mais ineficaz de ensinar na Escola Sabatina. “Passar a lição” é negar que a Escola Sabatina é uma escola; e escola requer participação, envolvimento, dinamismo.
Ellen G. White afirma que “todo professor deve cuidar de que seu trabalho tenda a resultados definidos. Antes de ensinar uma matéria, deve ter em seu espírito um plano distinto, e saber o que precisamente deseja conseguir”.[2]
O momento do estudo da lição da Escola Sabatina deve ser considerado sagrado, e precisa alcançar resultados específicos: os alunos devem participar, devem aprender, e devem ser conduzidos a um processo de mudança de vida, mediante a atuação do Espírito Santo. Para que isso ocorra, nós professores da Escola Sabatina devemos ter em mente um plano distinto, que nos permita alcançar os resultados desejados. E o esquema MCAC serve perfeitamente para isso; ele se fundamenta nas mais avançadas orientações sobre como funciona o processo ensino-aprendizado, e se enquadra nas orientações divinas.
Pr. Adolfo Suarez, Prof. Teologia – UNASP EC
[1] Edgar Dale. Audio Visual Methods in Teaching. New York: The Dryden Press.
[2]Ellen G. White. Educação. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003, p. 123-124.