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Relacionamento com outras religiões

A Bíblia revela que Deus é amor (1Jo 4:8), e uma das faces do amor é a que confere liberdade ao ser amado. Por isso, ao criar a raça humana, o Senhor a fez livre para tomar suas próprias decisões morais e espirituais (Gn 2:15, 17; Dt 30:19, 20; Js 24:15; Mt 16:24; Ap 3:20). […]


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A Bíblia revela que Deus é amor (1Jo 4:8), e uma das faces do amor é a que confere liberdade ao ser amado. Por isso, ao criar a raça humana, o Senhor a fez livre para tomar suas próprias decisões morais e espirituais (Gn 2:15, 17; Dt 30:19, 20; Js 24:15; Mt 16:24; Ap 3:20). Após a queda, ocasionada pela desobediência voluntária do primeiro casal (Gn 3), o ser humano se tornou escravo do pecado (Jo 8:34; Rm 6:1-23). Contudo, Deus, por meio do plano da redenção, proveu o caminho para a reconquista da plena liberdade.

Essa verdade pode ser observada em uma série de mandamentos, ordenanças e orientações do Antigo Testamento como, por exemplo, a observância do sábado (Êx 20:8-11; Dt 5:12-15), a celebração das festas (Lv 23), as leis sociais israelitas (Êx 21:2; Lv 25:40, 41) e as exortações referentes à genuína religiosidade (Is 58; Jr 34:8-14). No Novo Testamento, Cristo proclamou a liberdade plena a todo aquele que aceita a salvação (Lc 4:18, 19; Jo 8:36), e os apóstolos destacaram esse aspecto em suas cartas (Rm 6:22; 2Co 3:17; Gl 5:1; 1Pe 2:16; Tg 1:25).

Os cristãos são comissionados a proclamar a mensagem de salvação a todo o mundo, como evidência de seu compromisso com Jesus (Mt 28:18-20; Ap 14:6-12). Assim, faz parte da pregação e da conduta cristã a defesa da liberdade de consciência e religião, ainda que seja para garantir o direito de não aceitar a oferta de libertação plena que Deus oferece.

Desde seus primórdios, a Igreja Adventista do Sétimo Dia defende o direito à liberdade religiosa e de consciência. Como parte de seus esforços, a denominação organizou, em 1893, a Associação Internacional de Liberdade Religiosa, a mais antiga entidade do gênero em atividade no mundo. Essa bandeira do adventismo leva a igreja a adotar uma atitude respeitosa em relação às demais crenças e religiões, embora isso não implique a participação em qualquer acordo ecumênico (ver “Movimento ecumênico”, em Declarações da igreja, p. 154-165).

Ellen White (2014) afirmou: “A bandeira da verdade e da liberdade religiosa desfraldada pelos fundadores da igreja evangélica e pelas testemunhas de Deus durante os séculos decorridos desde então foi, neste último conflito, confiada a nossas mãos” (p. 68). Em consonância com esse pensamento, a postura dos adventistas do sétimo dia em relação a outras religiões, por meio do contato pessoal ou de sua produção editorial, deve ser guiada por dois princípios: (1) compromisso com a Palavra de Deus e (2) respeito por outras formas de crença.

O equilíbrio entre esses princípios é bem elaborado no pensamento de Ellen White (2010). Ela destaca que “a preciosa verdade tem de ser apresentada em sua força original. Os enganosos erros que se acham espalhados por toda parte e que estão levando cativo o mundo devem ser desvendados” (p. 41). Contudo, a apresentação integral da mensagem peculiar que está a cargo dos adventistas do sétimo dia não deve ser pretexto para a publicação de ataques contra outras religiões (ibid.).

Ela cita a atitude de Cristo ao tratar com o adversário e afirma: “em todas as relações com os outros, jamais façamos contra alguém uma acusação injuriosa; muito menos devemos empregar aspereza ou severidade para com os que podem estar tão ansiosos como nós por saber o caminho reto” (ibid., p. 40). E ainda: “aquele que é descuidado e precipitado em proferir palavras ou em escrevê-las para publicação a ser espalhada pelo mundo [...] está-se desqualificando para receber o legado da sagrada obra que recai neste tempo sobre os seguidores de Cristo. Os que costumam fazer severos ataques estão formando hábitos que pela repetição se irão fortalecendo, e dos quais terão de arrepender-se” (ibid., p. 41).

A compreensão bíblica de liberdade e os conselhos de Ellen White quanto ao modo como os adventistas deveriam se dirigir a outras religiões ecoam em documentos oficiais da denominação. Em 1926, a Associação Geral aprovou o documento O 75, que, posteriormente, foi incluído na praxe eclesiástica. Ele orienta sobre o relacionamento da Igreja Adventista com outras igrejas cristãs e organizações religiosas. Quatro pontos se destacam no texto: (1) “Reconhecemos aquelas agências que elevam a Cristo diante dos homens como parte do plano divino para a evangelização do mundo, e temos em alta consideração homens e mulheres cristãos em outras comunhões que estão engajados em ganhar almas para Cristo”; (2) “quando o trabalho missionário nos coloca em contato com outras sociedades missionárias e entidades religiosas, o espírito de cortesia cristã, sinceridade e justiça deve prevalecer em todos os momentos”; (3) “reconhecemos que a verdadeira religião é baseada na consciência e convicção. [...] Esperamos que outras entidades religiosas respondam com o mesmo espírito de liberdade religiosa”; e (4) “a Igreja Adventista do Sétimo Dia é incapaz de limitar sua missão a áreas geográficas restritas por causa de sua compreensão do mandato da comissão evangélica” (Department of Public Affairs and Religious Liberty, 2004, Apêndice II).

Em 2000, no documento “Liberdade religiosa, evangelismo e proselitismo”, a igreja afirmou: “A atividade evangelística e missionária precisa respeitar a dignidade de todos os seres humanos. As pessoas precisam ser verdadeiras e transparentes ao lidar com outros grupos religiosos. Deve-se evitar a terminologia que possa ofender as outras comunidades religiosas. Declarações falsas ou que ridicularizem outras religiões não deveriam ser feitas” (2005, p. 77).

Assim, a bem fundamentada compreensão adventista acerca do relacionamento com outras denominações cristãs ou entidades religiosas deve nortear as iniciativas de comunicação da igreja.

Princípios editoriais

  1. Nossos materiais devem ser reconhecidos pelo compromisso com a causa da liberdade religiosa e de consciência. Assim, defendemos respeitosamente o direito de crer, ou não crer, de todas as pessoas.
  2. Devemos divulgar a compreensão teológica adventista considerando-a em sua inteireza e fazendo uso de uma linguagem objetiva, clara e respeitosa. Como defensores da liberdade religiosa, queremos usufruir desse direito proclamando a mensagem que está sob nossa responsabilidade nos dias finais da história da Terra.
  3. Ao confrontar pensamentos teológicos diferentes dos nossos, devemos fazê-lo de maneira respeitosa e digna, por meio da apresentação bem elaborada de ideias e argumentos bíblicos. Não devemos partir para ofensas a líderes nem a entidades religiosas.
  4. Devemos respeitar os símbolos, rituais e costumes de outras religiões, evitando críticas desnecessárias. Porém, há casos extremos, como atos de violência e mutilações de corpos, que merecem nosso repúdio. O bom senso deve guiar a decisão do escritor/editor/jornalista.
  5. Atos de terrorismo não têm que ver com liberdade de religião, mas com crime. Por isso, devem ser condenados. Mas é preciso ter cuidado para não fazer generalizações injustas ao associar o radicalismo de um grupo com a religião ou denominação como um todo.

Bibliografia

Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia. (2005). “Liberdade religiosa, evangelismo e proselitismo” (p. 77-78), em Declarações da igreja. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia. (2005). “Movimento ecumênico” (p. 154-165), em Declarações da igreja. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

Carnassale, H. (org.) (2017). Manual prático para diretores de liberdade religiosa da igreja local. Brasília, DF: Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Department of Public Affairs and Religious Liberty. (2004). The religious liberty leader’s handbook. Silver Spring, MD: General Conference of Seventh-day Adventists.

Diop, G. (2016). The foundations and functions of public affairs and religious liberty. Silver Spring, MD: General Conference of Seventh-day Adventists.

Graz, J. (2014). Church ambassador. Silver Spring, MD: General Conference of Seventh-day Adventists.

White, E. (2010). O outro poder. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

White, E. (2014). Atos dos apóstolos. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

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